15 de outubro de 2009

IDIOSSINCRASIA

"Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites,  
não podemos crescer emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um. "

(Fernando Pessoa)

Hoje não sei por quê acordei com Fernando Pessoa "martelando" isso nos meus pensamentos . Tenho sorte de acordar com poesia na cabeça, de manhã: Torna o início do meu dia mais leve.


Gosto muito da poesia dele e de Mário Quintana, esse; meu preferido! 
Tem uma poesia chamada Indivisíveis: Que é a minha história rsrsrs ...
(Parece até que foi escrita pra mim):

"O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
que havia num terreno entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas, isto é,
que a gente grande achava bobas...
...
Éramos um desejo de estar perto, tão perto

Que não havia ali apenas duas encantadoras criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra.
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida..." 
( Mário Quintana)

Realmente, passamos a vida inteira criando expectativas em cima de situações e pessoas. Acredito em acasos sim, mas acredito ainda mais no FAZER ACONTECER ...
Mas antes de tudo, tentar reconhecer nossos vazios e preenchê-los, sozinhos !
Fernando Pessoa não era tão incisivo assim: ele acreditava em momentos breves, pessoas breves ... amores breves ... 

Mário Quintana acreditava em eternidade de momentos e pessoas que se eternizavam.  As fases da vida são sempre descontínuas .Quem acredita no contrário - em continuidade -acredita então de viver de sonhos, de fantasias,  nada mais.
Se a vida fosse continuidade, não haveria nunca recomeço pra nós. Somos desdobráveis e redobráveis ! - "Pequenos pedaços" de papel "dobrados" - viramos ORIGAMIS da vida,  diariamente. Ela nos "dobra" : nossas vontades e nossos sonhos.
Como somos tolos em acreditar em momentos! O "breve" dura fração de segundos. Então ? ninguém encontra a felicidade eterna em momentos breves e fulgazes... Isso é ilusão dos apaixonados!



Procuramos a felicidade em um todo: Não em momentos! Não acredito em intensidades de momentos; isso é coisa de poeta ! Acredito na força do tempo, naquilo que ele faz mudar ou confirmar: Tudo isso baseado em atos e atitudes. Não em idéias, conceitos e opiniões... Ninguém muda de um dia pra outro. Nem ama de um dia pra outro.
Amor é feito de bases sólidas, de convivência diária, de atos amorosos, não de palavras bonitas e declarações. O resto é ilusão poética,  paixão barata... Um clichê!
O Ser humano na sua imprevisibilidade, deixa claro que qualquer sentimento é transitório, na sua intensidade, se não for baseado em atos contínuos. Não acredito em intensidades de sentimentos!
Acredito em conteúdos. Em coisas continuadas ou que possamos tangenciar.
"Intensidades" não combinam com conteúdo! ... (Estou errada ?  me diga então...)

Conteúdo é complemento de coisas duradouras não fungíveis.
Intensidade é a apresentação fugaz de coisas intangíveis.

A poesia de Mário Quintana (pra quem conhece a fundo sua obra), demostra que ele não acreditava em intensidades: Ele acreditava no conteúdo do amor. Naquilo que completa um vazio: Porque o que é preenchido, nunca deixa lacunas em momento algum!
É como se você adorasse pro resto de sua vida algo ou alguém que se foi e deixou saudades... Algo ou alguém que não volta mais,  que nunca será substituído. Algumas pessoas preenchem nossos vazios com conteúdos e fecham todas as nossas lacunas.
Existem pessoas assim, elas vem e algumas vezes se vão... Só percebemos isso com o tempo e com a ausência.

Ao contrário de Mário Quintana, Fernando Pessoa tinha como inspiração o contra-senso do amor. Ele mesmo acreditava no amor, como um contra-senso de sentimentos.
Lindo isso! Mas pouco inspirador poeticamente, como ele dizia. Suas poesias apresentam dualidade de idéias: " Amo, mas não amo completamente " ....
Eu até gosto, mas não me sinto íntima de declamar versos  que não me preenchem o senso de idéias. O que me suscita dúvidas, não me satisfaz.
Amo como Mário Quintana expunha  a verdade da vida, a visão do amor de forma real e inspiradora; sem a melancolia emocional de Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa era um lacônico emocional. Mário um inspirador de sentimentos! Não de forma difusa, mas em toda sua plenitude.
- Nós somos os poetas de nossa vida... Ele "ditava" em suas entrevistas. (E somos mesmo, "poetas" de nossas vidas ! )

"Já trazes ao nascer a tua filosofia. As razões? Essas vêm posteriormente:
Tal como escolhes, na chapelaria, a fôrma que mais te assente..."
(Mário Quintana)

Fernando Pessoa preenche meus anseios lúdicos. Mário Quintana expõe as minhas verdades plenas e absolutas, em forma de poesia ... rs.
Que seria de mim sem eles, pra me inspirar na vida ... inspirar meus dias... 
Os dois vivem "quietinhos" em meus pensamentos, mas em suas respectivas "prateleiras" de sentimento. Um é "orador" da minha emoção. O outro, "orador" da minha razão... Convivem pacificamente: Um "razão" o outro "inspiração".
O que seria da nossa vida sem poesia ? O que seria de nós, sem aqueles que conseguem dar sabor especial as palavras? Aqueles que conseguem fazer de momentos que se perderiam no tempo, ficarem perpetuados: nas palavras!
Claro, qualquer palavra bem pronunciada, não se perde no tempo: Não esquecemos jamais.
 "Palavras se perpetuam no ouvido no qual ela soou como melodia" (N.A) .

Somos donos da palavra dita, mas nunca dos sentimentos que elas venham a nos causar ...(N.A)

"Somos donos de nossos atos, mas não donos de nossos sentimentos.
Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos.
Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos...
Atos são pássaros engaiolados...Sentimentos são pássaros em vôo ."
                              (Mário Quintana)

Gente, me desculpe o post tosco: Hoje a poesia me controlou de forma tão ampla, que achei melhor falar sobre sentimentos poéticos: É que já vivemos a vida sem romantismo,  por causa da nossa rotina insensível e dinâmica.
O amor ainda move todas as esferas da nossa vida: Não é o dinheiro, o sucesso ou nossas inspirações ou nossos anseios incompletos . O amor é a maior inspiração de nossa vida : O amor por nós mesmos, primeiramente ! O amor que sentimos pelos "outros" é a complementação do nosso amor.

O "outro" é a extensão de nós mesmos: O complemento, a nossa  "palavra", personificada ! (N.A)